História 4

 

Era um dia de sol. Podia ouvir os passarinhos a cantar e que gosto dava ouvi-los. Sentia-me bem. Encontrava-me agora deitada sobre a relva dos jardins da escola com a minha melhor amiga Mya. Ela ouvia música alto o suficiente para eu também conseguir ouvir.

 Sempre me sentia bem ao pé dela. Sentia-me mais completa pois ela era uma parte de mim enorme.

 -Nana, vai tocar agora. – disse-me ela de repente.

 -hum. Tens razão. Temos que ir.

 Levantámo-nos e fomos para dentro dos blocos. Chegámos mesmo quando tocava. Como eramos de turmas diferentes, cada uma ficou num andar diferente. Íamos a meio da aula quando de repente o chão começou a tremer. Só senti o chão a ceder e fui logo a correr para ao pé da janela. Uma fenda enorme abrira-se, destruindo a escola. Muitos dos alunos do bloco foram “engolidos” por aquele buraco sem fundo. Olhei para baixo e vi só pedras. Um calor enorme vida de lá. Ouvia gritos por toda a parte e tudo cheio de sangue. Não sei como, consegui chegar a uma beira segura da grande fenda. O chão ainda tremia e de repente a pedra partiu-se e eu também cai. O pânico tomava conta de mim e então eu gritei.

 Pensava que ia morrer, mas não. Cai numa pedra mal segura do grande buraco e bati com a cabeça. Foi quando vi Mya.

 -Mya! Tu estás bem!

 Sem pensar, levantei-me e cambaleei, por causa da minha cabeça que latejava por causa da pancada. Um pingo de sangue vindo da minha cabeça caiu na minha pele branca, contrastando. Fui até a ela de braços abertos para abraçá-la, e foi quando ela me empurrou. Por ainda estar tonta, cambaleei, tropecei numa pedra e cai.

 -Afasta-te de mim! – disse ela.

 Seus olhos estavam frios e me olhavam de uma maneira tao odiosa que me deu vontade de chorar; mas não chorei.

 -M-Mya?

 Ela me sorriu.

 -Para ti não sou Mya! Chega destas alcunhas estupidas, idiotas e sem sentido! Quem é que te pensas que eu sou?

 -Des-Desculpa… pensei que gostasses… És a minha melhor amiga.

 Isto fê-la rir-se na minha cara. A terra parou de mexer. O calor de ainda à bocadinho vinha da lava que se encontrava muito ainda abaixo de nós. Lá em cima ouviu-se a sirene dos bombeiros e de várias ambulâncias.

 -A sério que achavas que eras a minha melhor amiga também? – ela voltou-se a rir. Aquilo magoava-me imenso. O meu pequeno mundo que construíra com as forças que ela me dava, desmoronou-se.

 -Pára… estás me a magoar… - disse.

 Não consegui aguentar nem evitar e comecei a chorar. Tentava ver o seu rosto através das lágrimas mas não conseguia.

 -É esse o objectivo, estúpida!

 -Ei! Está aí alguém? – ouviu-se lá em cima.

 Mantive-me quieta e magoada. Foi Mya quem respondeu.

 -Sim! Por favor me ajudem!

 -Tem mais alguém ai? - Perguntaram.

 -Não! Sou só eu!

 “O que isto significava? Para quê tudo isto? …  Onde é que eu errei?”

 Ela olha para mim novamente e sorri-me.

 -Bem, vou ter que me livrar de ti, antes que ele chegam.

 E com isto ela aproximou-se de mim e me disse:

 -Adeus Nathalia. Espero nunca mais poder-te ver.

 E com isto empurrou-me e eu cai de costas pela beira.

 

 

 

Abri os olhos. Pensava que tinha morrido. Havia tanto calor que mal conseguia respirar. Olhei para o lado e vi que caíra em uma outra pedra, mesmo na beira. Conseguia agora ver bem a lava por ela estar tão perto.

 Olhei para cima e vi Mya a ser resgatada. Não me mexi. Sentia o corpo todo dorido. Já não tinha mais motivo nenhum para continuar viva. Quem eu amava me magoou; me matou.

 Novas lágrimas começaram a escorrer. Enquanto chorava, fui vagarosa e dolorosamente até Quase cair e então, com um esforço me voltei um pouco e cai para a lava, que agora era quem me acolhia… e com ela também a morte.

 

FIM