Inocentes Amores - História/Livro

 

 

 

Capitulo 1

  Uma semana passada desde o fim das aulas. Na televisão apenas passava filmes de treta aquela hora. Amanhã partia para casa de uma tia que há muito não me via. Dizem que ela é uma das pessoas mais importantes de Tepúlia, um pequeno reino esquecido no canto da Europa.

  Desliguei a televisão e encostei-me no sofá a olhar para o tecto. Não tinha que fazer. Apenas ansiava pelo dia seguinte.

  Levantei-me e fui para o quarto, sentei-me na cadeira da secretária e liguei o portátil. Tinha três emails novos: um do meu primo de Tepúlia, outro da Marta e outro do Hotmail. Li os dois primeiros e apaguei o último. Com certeza que se tratava de uma promoção qualquer.

  Rodei a cadeira e olhei à volta. Tinha duas malas brancas de roupas e outras coisas abertas, quase no meio do quarto e uma mais pequena para o portátil. Tinha ido comprar roupa no dia anterior para levar amanha a uma loja tão chique em que nunca esperaria entrar e a minha mãe ofereceu-me uma jóia de família de ouro branco com um cristal de um rosa claro em forma de lágrima. Era bastante belo e sobressaía os meus lindos olhos azuis marinhos. Adorei-o desde o primeiro momento em que o vi.

  Liguei a aparelhagem que se encontrava a meu lado, pus um cd de música clássica e deixei-me cair levemente para cima da cama.

  -Mónica! Anda lanchar!

  A voz da minha mãe interrompeu o meu vazio tranquilizador. Levantei-me delicadamente da cama branca, desliguei a aparelhagem e desci as escadas até à sala, entrando na porta au lado para a sala de jantar.

  Em cima da mesa que se encontrava a meio da sala estava um monte de torradas acabadas de fazer e um jarro de sumo de laranja au lado com dois copos. Sentei-me no mesmo lugar de sempre e esperei que a minha mãe se sentasse também.

  Eu vivia sozinha com a minha mãe numa casa alugada no canto da cidade do Porto, au pé de um campo. Os vizinhos mais próximos ficavam a meio quilómetro daqui. A casa era grande. Grande demais para duas pessoas e uma cadela. A minha mãe é arquitecta. Uma das arquitectas mais conhecidas do Porto. Assim, inscrevi-me num dos melhores colégios da cidade.

  A minha mãe tem algumas parecenças comigo. Agora não se nota muito mas nas fotografias na altura em que a minha mãe era jovem, nota-se que o cabelo é exactamente igual (castanho claro ondulado), menos no corte, a forma do corpo delicada e a cor da pele. De resto era parecida com a minha avó paterna.

  -Ansiosa por amanhã? – Perguntou ela.

  Respondi-lhe com um simples encolher de ombros. Sinceramente, não sabia se estava preparada para dois meses e meio de vida de ricos.

  -Já tens tudo preparado? Não te esqueças que tens de apanhar o avião amanha de manhã às dez horas.

  -Sim, eu sei. Como vou reconhecê-los se a última vez que vi a tia Odete ainda era bebé?

  -Não te preocupes com isso… - respondeu-me sorrindo despreocupadamente mas com um tom de voz meio alegre, deixando-me, como sempre, com a ansiedade e a curiosidade à flor da pele.

  A minha mãe sempre foi dada para os mistérios, suspense e surpresas. Ela sempre me tenta surpreender e adora pôr-me à prova e viver o desafio através de mim pois a sua saúde já não o permite há anos. Eu nunca fui dada para essas coisas mas, para a vê-la feliz eu faço-o.

  Quando terminei de comer a terceira torrada terminei com o sumo que tinha no copo, agradeci-lhe, levando o copo para a máquina da loiça e voltei para o quarto.

  Apetecia-me pintar. Olhei para a tela branca poisada no cavalinho au pé da varanda. Dirigi-me au guarda-roupa, corri a primeira porta e tirei o conteúdo da divisória de cima e poisei-o na mesa au lado do cavalinho.

  Peguei no pincel quatro e olhei para as tintas. Comecei a imaginar uma paisagem desconhecida esbatida com a velocidade de dois cavalos a galope. Abri tubos de tinta de vários tons para o primeiro plano e troquei o pincel pelo número três. Abri uma garrafa de água e depositei um pouco dentro de um recipiente e molhei o pincel, logo a seguir na tinta e comecei a formar os cavalos de ar selvagem.

  O pôr-do-sol apareceu tão rapidamente quanto foi e, aproveitando os seus últimos raios de luz terminei o meu quadro. Olhei satisfeita pra ele com o pincel na mão e depois assinei-o no canto.

  -Esse quadro ficará perfeito aqui no teu quarto, querida.

  -Mãe! – Voltei-me com o susto.

  -Sou eu sim! Quem mais querias que fosse? – Brincou sorrindo.

  -Ninguém. - Sorri-lhe também. – Apenas assustaste-me. Não estava a contar.

  -Isso é bom. Vim-te informar que hoje não há jantar.

  Esperei. Sempre que ela diz isto é porque vem aí uma surpresa louca dela.

  -Hoje há noite de cinema! Escolhes tu o filme! Acabei de encomendar a tua piza favorita.

  -Não era preciso, mãe, mas obrigada.

  -Tenho de aproveitar este último dia antes de partires e visita. Vamos?

  Assenti. Poisei o pincel e levei os recipientes todos para o lavatório e lavei tudo com jeito. No fim voltei a arrumar tudo no sítio e desci.

  A minha mãe sempre foi uma coleccionadora, ou seja, temos uma colecção de filmes enorme guardada no armário encostado à parede au pé das escadas, au lado do sofá.

  Corri a os nomes escritos nas capas na lateral até encontrar o filme do Titanic. Desde a primeira vez que o vi que me apaixonei pela história de amor ali vivida e também sempre tive o fascínio de ver o Titanic afundar-se, como se tivesse a viver aquilo tudo no momento.

  A minha mãe sempre tenta não chorar nos filmes mas às vezes não se consegue aguentar.

  A piza vegetariana chegou logo nos primeiros minutos do filme. Estava saborosa, como sempre. A minha cadela Girassol veio ter comigo e poisou a sua cabeça no meu colo. Fiz-lhe bestinhas.

  O filme acabou por volta das vinte e duas e meia. A minha mãe foi lentamente para o quarto, seguida pela Girassol enquanto arrumava o DVD e pus a caixa da piza no lixo. Com já tudo terminado voltei para o quarto e troquei a roupa por calças e uma t-shirt de pijama.

  Deitei-me na cama apenas me tapando com o lençol branco e adormeci rapidamente.

 

 

 

 

Capitulo 2

  Acordei às sete horas da manhã com o som do despertador. Sonolenta, levantei-me. Dirigi-me para a casa de banho e liguei a água do chuveiro. Despi-me e entrei no chuveiro e senti a água morna a correr pelo meu corpo. Peguei no meu champô com cheiro a morango para cabelos ondulados, lavei o meu cabelo e passei-o por água. Peguei no gel de duche e passei-o pelo corpo. Deixei-me relaxar um pouco e depois olhei para o telemóvel e vi as horas. Ainda só tinham passado vinte e três minutos desde que o despertador tocou.

  Deixei-me estar mais um bocadinho e desliguei a água. Peguei na toalha e envolvi-me nela. Tirei a água a mais do cabelo e fui para o quarto. Sequei-me, vesti a roupa interior e enrolei a toalha no cabelo.

  Não sabia se já deveria ir com um vestido ou se iria normal. Decidi então optar por umas calças, umas botas brancas e uma camisola branca justa de gola, pois o clima lá é mais frio. Na minha bolsa de pôr au ombro castanha clara de pele guardei um gorro e umas luvas brancas também.

  Olhei para a fotografia minha com o meu pai e a minha mãe e com Girassol tirada no último inverno com o meu pai e guardei-a numa das malas brancas, olhei em volta e os meus olhos poisaram em cima da boneca que se encontrava em cima da cama desmanchada que o meu pai tinha-me oferecido antes de morrer de cancro. Tinha sido mandada fazer para ficar parecida comigo. A boneca tinha cabelos castanhos com um gorro branco, pele cor de leite e os olhos também azuis, mas de um azul diferente do meu, e vestia um vestido branco a imitar o meu vestido preferido de quando era mais nova.

  O meu pai morreu apenas há três anos de cancro nos intestinos. Nunca fui e nem sou nada parecida com ele e por isso mantinha aquela boneca e a fotografia dele sempre por perto.

  Guardei também a boneca e fechei as malas. De repente tive uma ideia. Daria um dos meus quadros à minha tia como forma de agradecimento pelo tempo em que estarei lá. Decidi dar o que tinha pintado no dia anterior. Dirigi-me au escritório da minha mãe e procurei um rolo de papel castanho e uma fita. Voltei au quarto e embrulhei o quadro com todo o cuidado. No fim peguei num bocado de papel branco e escrevi FRÁGIL, prendendo-o à fita. No fim guardei o portátil na mala e fechei-a.

  De repente ouvi um bater na porta.

  -Entra mãe. Bom dia.

  -Bom dia! Preparada para a viajem?

  -Acho que sim.

  -Assim é que é! Asseguro-te de que te vais divertir-te muito lá. Se precisares de alguma coisa podes sempre contar com o teu primo Louis e com os teus tios. Bem, mais com a tua tia Odete do que com o teu tio Joaquim.

  -Ok. Obrigada pelo conselho. Tomarei isso em conta.

  -Vou preparar o pequeno-almoço e depois vamos indo para o aeroporto, ok?

  -Sim.

  -Vais ser um encanto lá!

  E saiu.

  Fiquei a matutar no que quereria ela dizer com esta ultima frase e desisti. Sabia que não valia a pena perguntar pois este é mais um dos seus mistérios que ela sempre me coloca.

 

*

 

  O avião acabou de aterrar no aeroporto de Tepúlia. Logo a seguir uma voz fez-se ouvir a informar-nos de que já poderíamos sair. Enfiei a mão na bolsa e tirei de lá o gorro e as luvas e logo depois saí do avião.

  Estava frio, mas não estava neve. O céu estava limpo e sentia-se uma brisa fresca de primavera com cheiro a penhascos e neve.

  Entrei num autocarro que nos esperava que nos levou a um edifício grande branco. Entrei no edifício e fui buscar as minhas malas e o quadro. Caminhei com o quadro debaixo do braço esquerdo, com uma mala na mão e com as outras duas malas na direita e saí do edifício.

  Cá fora encontrava-se um carro antigo com aspecto de novo e um homenzito baixo de farda e boina que segurava um cartão branco com o meu nome lá escrito. Lentamente, dirigi-me a ele.

  -Menina Mónica? – Disse o homenzito em inglês.

  -Sou eu sim.

  O homenzito pegou nas minhas coisas e levou-as para a parte de trás do carro. Clicando num botão abriu o porta-bagagens e poisou lá as malas. Logo de seguida abriu a porta de trás do carro e curvou-se, fazendo uma espécie de vénia. Entrei e fechou a porta. Baixinho, agradeci. O homenzito que tinha acabado de entrar no carro olhou pra mim pelo espelho e ligou o motor. Desviei o olhar e observei a através do vidro a cidade.

  Naquele país tudo parecia mais antigo, como se tivéssemos recuado no tempo. Não havia sinais de nenhum arranha-céus e apartamentos luxuosos como na maioria das capitais, apenas casas antigas mas grandes e longos corredores de casas de vários tamanhos e as ruas ainda feitas de pedras. Também não se avistava ninguém na rua a pedir esmola, o que era bom pois era sinal de que não havia pobreza.

  Au sairmos da estrada da cidade indo para um caminho de terra, a cidade foi substituída por uma paisagem campestre com montanhas de pontas brancas e com um rio correndo ali perto.

  Pouco depois de chegarmos a um caminho de pedras, passámos por um portão de ferro e chegámos a uma grande mansão branca de quatro andares (acho), tudo bem trabalhado e bem cuidado, com grandes janelas, uma porta majestosamente bela logo seguida por uns quantos lances de escadas que vêm dar a um jardim bem arranjado e bem cuidado por onde passa no meio a estrada de pedras com um repuxo no centro a fazer zona de circulação, à frente da entrada.

  O motorista parou o carro onde começa o primeiro lance de escadas. Depois saiu, abriu-me a porta para sair, voltou-a a fechar, abriu o porta bagagens e tirou de lá as malas e o quadro, poisando-as no chão para conseguir fechar o porta bagagens. Logo de seguida pegou nas minhas malas e levou-as esforsosamente escadas acima. Segui o homenzito, cheia de pena dele por aquele enorme esforço que fazia.

  Au chegarmos au topo o homenzito poisou as coisas cansado e todo corado pelo esforço e abriu a majestosa porta. O interior da mansão era quase como num conto de fadas. O hall era uma grande divisão, maior até que o meu quarto, com mais um lance de escadas seguradas por pilares que vai ia a um corredor com uma porta que dava acesso au segundo andar. Nas paredes em cada lado havia mais duas portas de aspecto antigo e o chão coberto por um tapete feito à mão. O tecto era também trabalhado, tudo em pormenores.

  A porta grande no cimo das escadas abriu-se e de lá saiu uma mulher um pouco mais alta do que eu, devido aos seus sapatos de salto vermelho escuro bem arranjado, com um vestido bem arranjado quase do mesmo tom de vermelho dos sapatos e que lhe marcava a cintura e com um penteado que lhe puxava o seu imenso cabelo castanho com aspecto liso para trás e que deixava ver-se uma outra ruga. Os seus olhos castanhos meigos sorriam para mim com um afecto que me pareceu familiar. Ela descia as escadas a sorrir numa postura que mostrava delicadeza e também que dava algum respeito.

  Quando chegou au pé de mim esta abraçou-me. Surpreendida, abracei-a também com o cuidado de mostrar a mesma delicadeza que o seu abraço. Depois ela afastou-se com um sorriso ainda mais aberto que o primeiro mas ainda com as suas mãos segurando as minhas.

  -Sê bem-vinda, Mónica! Há muito que esperávamos a tua chegada. – Cumprimentou-me a tia Odete num português perfeito mas requintado.

  -Obrigada por me receber em sua casa, tia Odete. – E sorri.

  -Estais uma menina tão bela, tão jovem e tão crescida!

  -Obrigada. – Não sei por quê mas sabia que me iria dar muito bem com a tia Odete. O meu sorriso abriu-se de felicidade.

  -Vou-te mostrar o teu quarto, minha querida. Esperai que esteja au teu gosto.

  Assenti nervosamente. A tia Odete voltou-se e subiu novamente as escadas e seguia. O homenzito vinha atrás carregado com as minhas malas.

  A passarmos pela porta que ficava au cimo das escadas entrámos por uma pequena sala com só mais uma outra porta. A seguir a essa segunda porta fomos parar a um longo corredor com várias portas de cada lado e à nossa frente um espaço aberto com no fundo mais escadas que davam acesso au terceiro andar. Subimos as escadas e fomos dar a mais outra sala pequena com uma porta grande de cada lado. Fomos pel’a da esquerda que deu a uma sala com um sofá antigo de três pernas dourado e de pano. Atrás estavam uns cortinados a cobrir uma pintura feita na parede de uma paisagem com um castelo e à direita uma enorme janela enfeitada com um belo cortinado antigo. No lado esquerdo havia uma outra porta grande. Seguimos por essa porta que deu a um corredor com mais outras portas. Parámos em frente à terceira porta da esquerda e a tia Odete abriu-a.

  -Este é o quarto onde passarás a dormir nos próximos tempos.

  Entrámos. O quarto era lindo, grande e branco com um tom suave de rosa espalhado por aqui e por ali. Na esquerda encontrava-se uma cama enorme, envolvida por umas cortinas brancas e rosa suave e transparente, com uma mesinha au lado da cama com um candeeiro eléctrico simples e um relógio dourado antigo. À frente encontra-se duas janelas que vão quase do tecto au chão com cortinados brancos e rosa. No lado direito encontra-se uma mesa antiga com gavetinhas, um espelho dourado pisado e com um outro espelho preso, toda pintada de branco. Havia uma porta branca au lado dessa mesa. O chão era de madeira branca com tapetes brancos.

  O homenzito poisou as malas à borda da cama e saiu, fazendo uma vénia e fechando a porta.

  -É lindo! – Digo-lhe maravilhada.

  -Ainda bem que gostais.

  -Para onde vai esta porta?

  -Essa porta dá para o armário. Quereis ir ver?

  -Sim. – Segui a tia Odete até à porta. Agora que reparei melhor, o quarto está também com um brilho dourado também. As paredes brancas tinham desenhadas um floreado dourado por todo o quarto.

  -Tomei a liberdade de comprar-te umas coisas para utilizares enquanto estais cá. – E sorriu au abrir a porta, afastando-se para me deixar olhar para lá para dentro.

  O quarto estava cheio de vestidos, jóias, sapatos, casacos, máscaras, acessórios e muito mais, tudo fazendo-me lembrar a época vitoriana. Abri a boca de espanto com a beleza de cada coisa ali guardada lá dentro. Olhei para uma tiara e apreciei a sua beleza. Para dizer a verdade, os vestidos que eu trouxe, comparado com o que tinha cá, eram demasiados século XXI comparo com estes, mas mesmo assim estes tinham mais beleza por causa dos seus pormenores.

  -Não tenho palavras para agradecer-lhe! Muito obrigada, tia! – Agradeci-lhe au voltar-me para ela. Ela sorriu-me e deixou-me passar novamente para o quarto.

  -Não me agradeceis. Desejo apenas que te sintas feliz enquanto cá permaneceres.

  -Obrigada!

  -Tenho de apenas pôr-te au corrente de tudo aqui na propriedade. Para isso tenhais aqui uns papéis que ajudaram melhor. Explicar-te-ei então. Seu primo Louis estai quase a chegar de sua escola. Ele chegai às quinze horas menos quinze e entrará de férias. Sois agora catorze e trinta. Como não sabeis muito dos costumes daqui ele explicar-lhe-á e ajudá-la-á. Tenhais aqui um mapa da propriedade e um horário para não se perder. No horário estai também indicado o horário de Louis. Podereis estar à vontade.

  -Obrigada tia Odete.

  -Agora se não se importais podereis mudar para algo mais cómodo, por favor?

  -Sim. Farei isso agora.

  -Chamarei uma das empregadas para ajudá-la sempre que lhe for preciso. Ela ajudá-la-á a vesti-la.

  -Obrigada.

  -A seguir venhais ter comigo au sala anterior au hall, por favor.

  -Como quiseis.

  E saiu. Comecei a esvaziar as malas, pondo os vestidos, sapatos, jóias e acessórios onde encontra-se um espaço, au pé dos outros. Estava quase a acabar de esvaziar as malas quando ouvi um bater de porta leve.

  -Entre. – Disse em inglês.

  Uma rapariga de mais au menos vinte e poucos anos, de cabelos castanhos-escuros e olhos verdes com farda entrou timidamente e fez uma vénia, nunca olhando para mim directamente.

  -Menina. Sois a sua empregada pessoal. Serei eu que cuidarei de si. Vim ajudá-la a vestir-se.

  -Como vos chamais?

  -Ana, menina.

  -Ok.

  Por impulso, ela olhou para mim mas desviou rapidamente o olhar como se tivesse cometido um erro.

  -Vem-me ajudar a escolher um vestido, Ana.

  Ela assentiu. Como ia à frente, abri a porta do armário e entrámos.

  Comecei a ver os vestidos. Eram todos lindos.

  -Olhe este, menina.

  Olhei para onde ela se encontrava, com um vestido branco justo em cima e solto em baixo, que fazia um pouco balão em cima para dar mais espaço em baixo, com alças de um azul claro transparente e brilhante que cobriam uma parte do ombro e do braço, com rendas azuis claras nas alças, no decote, na linha que marca o peito opor baixo e na cintura, por onde começava o mesmo tecido das alças em azul claro transparente e brilhante. O vestido era apertado por botões azuis da mesma cor atrás.

  -Que vestido mais bonito!

  -Combinam e sobressaírem o lindo azul dos seus olhos.

  -Obrigada!

  Ana pegou num corpete e numas sabrinas azuis claras a combinarem com o vestido e saiu. Olhei para os colares pulseiras, anéis e outros acessórios e peguei num colar de fio em prata com um cristal em forma de coração pequeno e transparente, com o fio passando num dos lados do coração.

  -Ana, que achais deste colar?

  -Fica muito bem, menina! Agora, por favor, chegai aqui para se vestir antes que seu primo chegue.

  -Sim, tens razão!

  Poisei o colar em cima da mesa e comecei a tirar o gorro, as luvas, a roupa e as botas, ficando só de roupa interior. Ana enfiou-me o corpete pela cabeça e pô-lo na barriga e na cintura e apertou atrás, fazendo um laço. Logo a seguir enfiou-me o vestido pela cabeça, apertou atrás e ajeitou-o. Tirando o banco por debaixo da mesa fez-me sentar nele e calçou-me as sabrinas e deu voltas com as fitas como nos sapatos de bailarina.

  -Vire-se para a frente, por favor.

  Virei-me para o espelho como me pediu.

  -Obrigada. – Murmurou.

  Sorri-lhe pelo espelho. Ela pegou no colar, afastou o meu cabelo e pô-lo no meu pescoço. Au fim de ajeitar voltou a pôr o meu cabelo no sítio. Pegando na minha franja deixou uma ponta no lugar e fez uma transa até a meio da cabeça e puxando-a para trás, prendeu a ponta com um elástico, fazendo o mesmo no outro lado. Logo de seguida prendeu as duas pontas com um outro elástico e pôs uma fita azul clara para tapar os elásticos e fez um laço.

  Logo de seguida, Ana entrou no armário. Ajeitei as pontas da franja e passei as mãos pelo meu cabelo brilhante, suave e ondulado. Ela voltou a aparecer trazendo o que parecia ser uma pulseira de prata que dava três voltas e terminava num enrolado simples. Ela passou-ma pela mãe direita e passou-a pelo antebraço até chegar quase au ombro e ajeitou-a, ficando uma ponta por baixo da alça azul clara transparente.

  -Isto é uma bracelete. Utiliza-se sempre na parte superior do braço.

  Assenti. Nunca tinha visto uma.

  -Deixai-me ver a sua maquilhagem.

  Virei-me. A minha maquilhagem era simples e natural. Tinha decidido pôr à última da hora.

  -Foi a menina que fez? Está muito bem-feita!

  -Obrigada.

  -Só precisa de mais um toque.

  Ana abriu a primeira gaveta e de lá tirou uma enorme caixa e abriu-a também. Lá dentro havia uma enorme variedade de maquilhagem. Utilizando vários tons simples maquilhou-me.

  Quando parecia ter terminado olhei para o espelho. Pouco parecia que tinha levado maquilhagem. A minha pele de leite apenas tinha adquirido um tom rosado muito leve nas bochechas, os olhos apresentavam um tom natural mas com vestígios de brilho e os meus lábios com um brilho suave e rosado com sabor a morango. Nem queria acreditar que aquela beldade no espelho era eu.

  -Tens umas mãos de fada! – Elogiei-a, maravilhada.

  Ela sorriu como que a agradecer.

  -Menina, tem menos de um minuto para estar lá em baixo. Temos que nos apressar!

  Levantei-me rápida e delicadamente para não estragar a obra de arte de Ana.

  -Menina, se quiser um truque pra não se perder siga sempre pelas portas maiores que levá-la-ão ao hall.

  -Obrigada pelo conselho, Ana.

  -De nada menina. – E sorriu.