capitulo 3 - 4
Capitulo 3
Segui caminho através das portas grandes e bem trabalhadas, andando rapidamente e segurando no vestido delicadamente como a tia Odete. Ao chegar à sala com a porta que dava acesso au hall ouvi a outra porta a começar a abrir-se. Abri a porta e olhei para lá baixo. A tia Odete encontrava-se no fundo das escadas e como se estivesse à espera e à porta encontrava--se um rapaz lindo, com um cabelo loiro que brilhava au sol, olhos castanhos, pele clara e lábios um pouco carnudos, vestido com um uniforme e com uma mala na mão. O rapaz olhou pra mim mal abri a porta. A tia Odete au ver a sua expressão olhou também pra mim e sorriu.
Desci as escadas delicadamente quase como tinha visto a tia Odete fazer.
-Louis, esta é a sua prima Mónica. – Disse em inglês.
-Olá. – Disse na mesma língua e sorri timidamente. Não conseguia desprender os olhos dos dele. Eram uns olhos muito bonitos.
Ele sorriu-me.
-Olá. – Respondeu-me em português.
Ri-me suavemente e au ouvir o riso dele parei. Ele também parou. Deu-me vontade de rir mas deixei estar. Ele sorria-me com os olhos também e começou a rir-se outra vez. Corei.
A tia Odete tentava-se controlar para não se rir também e pôs a mão à frente da boca pra disfarçar. Olhámos pra ela. Ela baixou a mão e sorriu-nos. Depois virou-se para o filho.
-Não quereis ir mudar de roupa para uma mais adequada e mostrar a casa a Mónica?
-Sim mãe. O farei com todo o gosto. Onde está o pai?
-Negócios.
-Então irei agora mudar-me.
-Vindes ter au jardim de trás.
-Sim. Lá estarei.
Olhou mais uma vez pra mim e subiu as escadas, desaparecendo pela porta.
-Tia, trouxe-lhes um presente. Está no meu quarto. Não se importeis que me acompanhe até lá para lho dar, sem me perder?
-Claro, minha querida!
Percorremos o mesmo caminho até au meu quarto e entrámos. Dirigi-me à beira da cama e peguei no quadro e dei-lhe. Ela tirou com cuidado o papel que o envolvia e olhou para o quadro.
-Foi a menina que o fez?
Assenti com a cabeça.
-Está magnifico!
-Ainda bem que gosta. – Sorri.
-Hei-de mostrar o seu lindo quadro a seu primo e seu tio.
Olhei para o chão e voltei a olhar novamente para ela.
-Vamos descendo antes que seu primo chegue.
-Sim.
Seguimos para o pátio, eu observando tudo à minha volta e a tia olhando para o quadro. Sorte a nossa de ela conhecer tão bem a mansão. Chegámos au jardim e ele ainda não se encontrava lá. Sentámo-nos na mesa de jardim mais próxima que se encontrava à beira da sombra de um sobreiro e observei o jardim. No jardim havia as mais variáveis plantas e um pequeno grande labirinto, de paredes feitas de arbustos bem altos. O jardim encontrava-se muito bem arranjado. Mais tarde aproveitaria uma tarde para o explorar.
Olhei para a tia Odete. O seu cabelo tinha já o reflexo de castanho claro velho que se ganha a partir de uma certa idade e os seus olhos tinham a mesma tonalidade que Louis, o que ainda não tinha reparado bem pois pareciam mais escuros na primeira vez que a vi. Ela também me olhava e me admirava como a calcular as parecenças e as diferenças da família.
Louis chegou, agora vestindo calças bege claro não muito justas, com uma camisa branca de algodão com pregas douradas enfiada por dentro das calças, com três pregas soltas, e também as duas das mangas e sapatos parecidos com os sapatos de golfe, mas bege. O cabelo não vinha tão bem penteado como dantes e os olhos pareceram clarear com a luz do dia.
Au passar pela porta, ele olhou pra mim com aqueles olhos fascinantes que me punham estranha. Olhei para as minhas mãos, corada.
-Podias ter au menos ajeitado melhor o cabelo, não achas? – perguntou a minha tia. Olhei pra ela e depois olhei pra ele pelo canto do olho.
Como resposta passou a mão pelo cabelo e sorriu. De seguida olhou-me pelo canto do olho e desviámos rapidamente o olhar para o lado oposto. Cada vez corava mais.
-Olhai para este quadro, Louis. Foi Mónica que o pintou. – e entregou-lhe.
Olhei pra ele. Ele observava o quadro com muita atenção e passou o dedo na pintura. De seguida olhou pra mim.
-Pintaste esta obra sem ajuda?
-Sim. – e sorri.
-Está incrível. Nem parece ser feito por uma rapariga de dezasseis anos.
Não sabia o que responder a tal elogio.
-E que mais sabes fazer?
-Muita coisa.
-Muita coisa? – E riu-se perante a minha resposta e poisou o quadro. – Quero ver isso. – Disse em tom de desafio.
-Verás. – e sorri.
-Louis, e que tal mostrares a casa à tua prima?
-Sim, mãe. Levá-la-ei agora de imediato. – com isto, estendeu-me a mão e olhou-me com um olhar convidativo.
Poisei a minha mão sobre a dele e levantei-me. Depois, ele soltou-me a mão e estendeu-me o braço. Passei a minha mão por dentro e poisei-a no antebraço e deixei-me guiar para a mansão.
Percorre-mos corredores infinitos e entrámos em diversas salas em cada andar. Eu ficava admirada com tudo o que via e ele ria-se da minha admiração. Finalmente chegámos au corredor dos quartos.
-Aqui ficam os quartos solteiros. O dos meus pais fica no outro lado, na outra porta. – avançou três portas e virou à direita, abrindo-a. – Este é o meu.
O quarto era grande, espaçoso com uma cama simples no meio e uma mesinha au lado, duas grandes janelas com cortinados só brancos, um cadeirão de madeira pintada a dourado em frente a uma mesa com a pasta poisada em cima. Au lado da mesa havia também uma porta que devia ser (claro) o armário. As paredes brancas tinham também desenhadas em dourado uns floreados. No chão em madeira castanha clara havia um grande tapete vermelho escuro com mais floreados desenhados e nas paredes haviam alguns quadros, todos com o seu nome.
Olhei pra ele e ele acenou, dando-me autorização pra entrar. Assim, passei pela porta, olhei em volta e dirigi-me para o quadro que mais tinha gostado, que cujo desenho era um pôr-do-sol com uma paisagem montanhosa em terceiro plano e em segundo plano um prado com dois cavalos ali a passar correndo. Passei o dedo na pintura, maravilhada.
-Também era o meu preferido. – murmurou ele baixinho quase au meu ouvido. Senti a sua respiração no meu pescoço e arrepiei-me. O meu corpo ficou um pouco rígido perante a nova e estranha sensação e o meu coração voltou a bater mais depressa. A seguir lembrei-me do que dissera.
-Era? – perguntei num murmúrio, com curiosidade.
-Sim, era. – ele endireitou-se e eu virei-me e olhei pra ele. Estávamos tão perto, e os seus olhos eram profundos, fogosos e carinhosos e prendiam os meus. – Agora é o teu.
Senti-me corar e um calor percorreu-me o corpo todo, mantendo-se. Não conseguia pensar e mal conseguia respirar. Sentia a minha pulsação até na ponta dos dedos, acelerada e forte e doía-me o peito.
Poisei a mão fechada sobre o peito tentando identificar aquela nova sensação e entreabri os lábios para conseguir respirar mais facilmente e me acalmar. Ele, corado, levantou a mão e passou pela madeixa solta do meu cabelo pelos dedos e poisou a mão na minha face, deslizando-a suavemente até a retirar lentamente. Onde ele tocara deixara um rasto de energia e formigueiro. Estávamos tão perto um do outro que sentia o seu calor também. Então, ele pegou-me na mão e dirigiu-me para fora do quarto, lentamente.
Já no corredor ele suspirou e voltou a olhar pra mim pelo canto do olho. Parecia mais liberto mas continuava corado.
-Estás toda corada. – e sorriu.
-Tu também. – sorri também timidamente. O sorriso dele abriu, mostrando os seus dentes brancos.
-Quero falar contigo por causa dos hábitos aqui. A minha mãe deu-te algum papel?
-Sim. Está no meu quarto.
Virei-me para a porta à frente da do quarto dele e entrei. Tinha poisado os papéis em cima da cama. Ele esperava-me à entrada, observando-me.
-Entra.
Ele aproxima-se, vai buscar o banco e senta-se au pé de mim.
-Deixa ver os papeis. – Disse, estendendo a mão. Entreguei-lhe os papeis. Ele analisou os papeis e voltou a olhar para mim.
-Parece que precisas de mim… - e sorriu, como se a ideia o agradasse. – Tens aí papel e caneta?
Abri a gaveta da mesinha de cabeceira e tirei de lá o meu bloco de notas e uma caneta azul e olhei para ele, esperando.
-Amanhã, sábado, vens ter comigo às oito horas da manhã au inicio do corredor. Vamos tomar o pequeno almoço juntos e logo a seguir vou-te levar a para uma das salas e vou-te ensinar os costumes principais e as posturas de uma rapariga. Almoçamos au meio dia e meio. No fim do almoço vou-te ensinar o simples vocabulário pois quase o dominas. Todos os dias às cinco da tarde é a hora do chá. Depois do chá podes fazer o que quiseres. Domingo será o mesmo horário, mas de manha dar-te-ei uma aula de dança e à tarde estás livre, a não ser que me queiras acompanhar. O dia seguinte será planeado no domingo, percebes-te?
-Sim.
-O chá está quase a começar. O jantar é servido às nove e às dez vamos todos para cima. Está tudo nos papeis. – disse, enquanto me olhava com um olhar suave mas profundo. A cor dos seus olhos era inserta mas fascinante.
-Que idade tens? – perguntei-lhe. Ele sorriu-me. O seu sorriso era lindo, simples, suave mas tentador.
-Dezassete. – respondeu suavemente. – E tu?
-Dezasseis. Pintaste aquele maravilhoso quadro à dois anos. Há quanto tempo pintas?
-Há cinco anos.
-És incrível. E o que mais sabes fazer?
Ele riu-se.
-“Muita coisa”. – Cita. Riu-me também.
-Se eu disser uma, dizes também?
-Sim.
-Sou boa em patinagem de gelo.
-Patinagem de gelo?
-Sim.
-Temos uma pista de gelo falso para isso. A minha mãe adora patinar.
-A serio?
-Sim. Queres ir lá depois do chá?
-Sim! Mas agora diz-me no que és bom.
-Sou bom a andar de cavalo.
-Eu não sei andar de cavalo.
-Então domingo à tarde vens comigo. – disse profundamente. Logo de seguida olha para a boneca que se encontra atrás de mim, levanta-se e pega nela.
-Que boneca mais linda. É igual a ti. – e sorri-me. – É bela, maravilhosa, com um sorriso encantador que me queima e uns olhos tão espantosos que me deixa louco… só é pea que não tenha a mesma tonalidade.
Sabia que aquilo me era dirigido. O seu olhar era verdadeiro e honesto e analisava-me pormenorizadamente. Corei mais do que já estava.
Silenciosamente, passei a mão pelo cabelo dele e senti a suavidade do toque e a temperatura a aumentar. Então, ele poisou a cabeça na minha mão e fechou os olhos. Mantive-me quieta enquanto sentia o meu coração a bater. Voltou a abrir os olhos com um olhar profundo e deixou-se estar durante algum tempo, olhando para mim, e por fim, pôs sua mão sobre a minha, fazendo-a deslizar pela sua face e tirando-a da sua cara, pondo-a entre as suas mãos.
-Vamos andando?
-Sim. – suspirei.
Fomos vagarosamente para o jardim, com o meu braço por dentro do dele e a minha mão no seu antebraço, em silêncio. Para dizer a verdade, já se tinha passado muita coisa desde a minha chegada… e a chegada de Louis.
Olhei para ele. Era a primeira vez que me sentia assim, tão… nas nuvens.